A amamentação é uma das práticas mais importantes que uma mãe pode fazer para garantir a saúde e o desenvolvimento do seu bebê. O leite materno é o alimento mais completo do mundo, capaz suprir o recém nascido com tudo o que é necessário para o seu desenvolvimento.
Amamentar não é vantajoso apenas para o bebê, a prática traz uma série de benefícios também para a mãe, além de fortalecer o vínculo mãe e bebê. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o bebê se alimente somente com leite materno pelos primeiros seis meses de vida, introduzindo alimentos após essa idade, porém mantendo a amamentação durante os dois primeiros anos de vida.
Infelizmente no Brasil a cultura do desmame precoce ainda é muito forte e faltam políticas públicas para garantir que as mães possam não só atender às recomendações da OMS, mas também serem capazes de compreender os efeitos da amamentação no seu organismo. Por conta disso, muitas pessoas acreditam que o simples fato de estar amamentando é o suficiente para evitar uma nova gestação. Essa informação está, ao mesmo tempo, certa e errada. Na prática, é possível engravidar amamentando.
Já deu para perceber que esse assunto é mais complexo do que parecia no início, mas não se preocupe, vamos explicar tudo para que você compreenda em quais circunstâncias amamentar realmente se torna um método contraceptivo e em quais ela não previne uma nova gestação.
- Como funciona a amamentação
- Benefícios da amamentação
- Método da Amenorréia Lactacional (MAL)
- Melhores métodos contraceptivos para quem está amamentando
Como funciona a amamentação
A amamentação é um processo natural do corpo, comum a todos os mamíferos. Durante a gestação, mas principalmente assim que o bebê nasce, o corpo da mãe começa a se preparar para alimentar o seu bebê. Esse processo, além de envolver vários hormônios, têm um grande custo calórico, demandando muita energia e recursos, tirados diretamente do corpo materno.
Diferente do que muitas pessoas pensam, o leite materno não fica armazenado na mama até a hora de o bebê se alimentar. Na realidade, o seio é uma fábrica que produz leite e sua produção ocorre conforme a demanda do bebê. Ou seja, quanto mais o bebê mamar, mais leite a mãe irá produzir.
Como o leite é produzido
Durante a gestação os níveis de progesterona estão muito altos, o que além de manter a gestação, inibe a produção do leite. Após o nascimento, com a saída da placenta, os níveis desse hormônio caem e com isso a quantidade de prolactina, hormônio responsável pela produção do leite, começa a aumentar.
Desde a saída da placenta até a descida do leite (apojadura) demora algum tempo. Para as mulheres que tiveram parto normal, esse tempo normalmente é de até 3 dias, enquanto para quem passou por uma cesariana pode levar até 7 dias. Essa diferença acontece porque as mulheres que tiveram o parto normal possuem níveis de ocitocina bem mais elevados, o que auxilia na amamentação.
Enquanto o leite não desce, a mulher libera uma secreção (muitas vezes durante a gestação) chamada de colostro. O colostro é altamente calórico e nutritivo e deve ser o único alimento oferecido ao bebê até a descida do leite.
Colocar o bebê para mamar desde o nascimento é muito importante para o estabelecimento da amamentação, pois é por meio do estímulo sensorial (sucção) e visual que o cérebro irá receber os sinais para a produção de leite.
Diante do estímulo recebido pelos sensores por meio da aréola, a hipófise fará a liberação de dois hormônios, a prolactina e a ocitocina. A prolactina é o hormônio que irá estimular a produção do leite, enquanto a ocitocina irá ativar o reflexo de ejeção. A mãe então ao amamentar estará estimulando novamente o ciclo, ou seja, enquanto houver estímulo a produção de leite seguirá ocorrendo independente da idade do bebê.
A crença de que a amamentação funciona como método contraceptivo é devido ao fato de a prolactina atuar como um inibidor de progesterona. Contudo, esse efeito não é conhecido ou controlável o suficiente para ser seguro utilizar o aleitamento materno como método contraceptivo a qualquer momento do puerpério.
Benefícios da amamentação
Que a amamentação é extremamente benéfica para o bebê e para a mãe quase todo mundo sabe, mas você sabia que estes benefícios começam já na sala de parto? Quando a amamentação inicia na primeira hora de vida, além de contribuir para o estabelecimento do vínculo mãe e bebê, auxilia na expulsão da placenta e diminuição do risco de hemorragia pós-parto. Isso ocorre porque a amamentação estimula a liberação de ocitocina, o hormônio responsável pelas contrações uterinas.
Além de auxiliar no pós-parto, a amamentação promove o crescimento e ganho de peso do bebê, fortalecimento do sistema imunológico e amadurecimento do sistema digestivo. Para a mãe, além de auxiliar na recuperação pós-parto, amamentar em livre demanda faz com que a mulher retorne ao peso de antes da gestação mais rapidamente, pois a produção de leite gasta muitas calorias.
Quando olhamos pelo lado econômico, amamentar é muito mais barato do que oferecer leite artificial (fórmula) e gastar com bicos e mamadeiras. Mais do que isso, é extremamente prático, pois não exige nenhum tipo de recipiente para transporte ou preparo. Tudo o que precisa é você e o seu bebê.
Método da Amenorreia Lactacional (MAL)
Durante muitos anos, acreditou-se que os hormônios liberados durante a amamentação seriam suficientes para inibir a progesterona, evitando assim a ovulação. Com base nessa crença, desenvolveu-se o Método da Amenorreia Lactacional (MAL), que consiste em um método contraceptivo baseado na amamentação.
Contudo, ao longo dos anos não existem evidências científicas conclusivas para que se recomende o uso do MAL como método contraceptivo, uma vez que não existe nenhuma forma de determinar quanto tempo uma puérpera passará sem menstruar e que a influência de fatores relacionados às condições da amamentação, relação sexual, alimentação, entre outros não são conhecidos.
Ao analisarmos a literatura atual, podemos dizer que a prática do Método da Amenorreia Lactacional como método contraceptivo não é indicada.
Métodos contraceptivos para quem está amamentando
Muitas mulheres ao darem à luz param de utilizar métodos contraceptivos, principalmente hormonais, pois acreditam que seu uso pode prejudicar o bebê e o aleitamento materno. Apesar de o uso de métodos baseados em hormônios (principalmente o estrogênio) não ser indicado, existem outras formas de prevenir uma gestação indesejada.
Os principais métodos contraceptivos não hormonais são:
- DIU de cobre
- Camisinha masculina e feminina
- Diafragma
- Coito interrompido
- Percepção da fertilidade
- Vasectomia
Existem alguns contraceptivos hormonais que podem ser associados à amamentação, contudo, antes de iniciar o uso de qualquer um deles, consulte o seu ginecologista para garantir que o uso não irá prejudicar a amamentação.
Agora que você já sabe como funciona a amamentação e a relação dos hormônios envolvidos nela com a fertilidade, certamente já compreendeu o porquê é possível engravidar amamentando. Então, caso você queira evitar uma nova gestação, lembre-se sempre de utilizar um método contraceptivo não hormonal durante as relações sexuais. Amamentar faz bem para a saúde, mas não é capaz de evitar que a ovulação aconteça.