Ter uma alimentação saudável durante o período gestacional é essencial, pois é uma fase na qual as exigências nutricionais são elevadas a fim de permitir os ajustes fisiológicos no organismo materno e o desenvolvimento do bebê.

Esse ciclo impõe necessidades aumentadas, que requerem um cuidado diferenciado, e, do ponto de vista nutricional, as vitaminas e minerais são os mais afetados por essa mudança no metabolismo1.

Esses micronutrientes são frequentemente ajustados pelo corpo, e é comum a diminuição da quantidade sanguínea de ferro, ácido ascórbico (Vitamina C) e ácido fólico na gestante. Esse fenômeno ocorre porque o estoque corporal existente dessas substâncias é redirecionado para o feto, e, por conseguinte, a concentração sanguínea da mesma diminui.

Uma possível suplementação, ou dietas específicas durante a gravidez vai depender diretamente do estado nutricional prévio da mulher, o qual pode ser influenciado por fatores genéticos, estilo de vida, alimentação e comportamento materno.

Pesquisas mostram que apenas 10% da população inclui frutas, verduras e legumes em seu cardápio. Outros estudos indicam não haver diferença significativa entre a alimentação de gestantes e não-gestantes. Inclusive, mulheres grávidas costumam apresentar uma maior inadequação no consumo de nutrientes essenciais como o ferro, folato e o cálcio.

Para que haja bom desenvolvimento e crescimento fetal, a gestante deve preferencialmente consumir alimentos em variedade e quantidade específicas. Recomendações dos guias alimentares e as práticas alimentares culturais e regionais devem ser seguidas com a intenção de atingir a quantidade certa de energia, de nutrientes e também de ganho de peso.

  1. Alimentação ideal na gestação e a Pirâmide Alimentar
  2. Ganho de peso gestacional
  3. Ganho de peso inadequado
  4. Ganho de peso adequado
  5. 10 dicas para ter um ganho de peso adequado na gravidez

Alimentação ideal na gestação e a Pirâmide Alimentar

A Organização Mundial de Saúde (OMS) explica que o conceito de alimentação saudável consiste em uma limitação no consumo de gorduras, açúcares e sal (sódio) e um aumento na ingestão de frutas, hortaliças, legumes, cereais integrais e frutas secas.

A pirâmide alimentar é uma ferramenta aliada a essa conscientização, que ajuda a ilustrar de forma simples como podemos ter uma alimentação saudável de forma equilibrada, adequada, variada, moderada, harmoniosa e colorida. Ela também orienta quais devem ser as proporções adequadas de alimentos a serem consumidos diariamente, por isso resolvemos explicá-la melhor para vocês.

A pirâmide explicada

Se utilizada corretamente, a pirâmide pode ser a melhor amiga das mamães e fazer com que esse período seja saudável, com mais bem-estar e sem riscos2. Abaixo, temos um exemplo de uma pirâmide alimentar contendo as quantidades adequadas para gestantes eutróficas (IMC: 18,5 – 24,9kg/m²) de 19 a 30 anos.

  • Primeiro nível:
  • É constituído pelo grupo dos cereais. Os alimentos desse grupo são as melhores fontes de carboidratos de absorção lenta. Esse nutriente contribui com a maior parte do valor energético da dieta.

    Porção recomendada: 5 porções/dia no primeiro trimestre e 6½ porções/dia no segundo e terceiro trimestres de gestação.

    Onde encontrar: arroz, pão, massa, cuscuz, bolo, raízes e tubérculos.

  • Segundo nível:
  • É o grupo dos legumes e verduras e das frutas. Os alimentos desse grupo são excelentes fontes de vitaminas, minerais e fibras.

    Porção recomendada: 5 porções/dia de legumes/verduras e 4½ porções/dia de frutas no primeiro, segundo e terceiro trimestres.

  • Terceiro nível:
  • É composto majoritariamente por alimentos fontes de proteínas. Temos três grupos alimentares nesse nível e a mulher pode escolher qualquer alimento contido em um desses três grupos para incorporar no seu cardápio:

    Leites e derivados: são boas fontes de cálcio, proteína e vitamina.

    Onde encontrar: iogurtes, queijos, leite, etc.

    Porção recomendada: 3 porções/dia durante toda a gestação.

    Carnes e ovos: esses alimentos são fontes de proteína e ferro.

    Onde encontrar: carne vermelha, suína, caprina, aves, peixes, frutos-do-mar, vísceras e ovos.

    Porção recomendada: 1½ porção/dia durante toda a gestação.

    Leguminosas: esse grupo é uma fonte vegetal de proteínas, minerais como o ferro e fibras.

    Onde encontrar: feijão, soja, ervilha, grão-de-bico, lentilha e sementes oleaginosas.

    Porção recomendada: 1 porção/dia durante toda a gestação.

Leguminosas são ricas em proteínas, minerais, ferro e fibras
  • Quarto nível:
  • Oleos e gorduras: os lipídios, ou como são popularmente conhecidos, as gorduras, são nutrientes que fornecem energia ao organismo e estão presentes em diversas preparações. Prefira sempre lipídios poli-insaturados, ou como os conhecemos, gorduras boas ricas em HDL. Evite as gorduras saturadas (ruins), que são fonte de LDL.

    Onde encontrar gordura LDL: Manteiga, margarina, banha, gorduras animais.

    Onde encontrar gordura HDL: Azeite de oliva, óleo de linhaça, óleo de gergelim e de sementes em geral.

    Porção recomendada: 2 porções/dia no primeiro trimestre e 2½ porções/dia no segundo e terceiro trimestres.

    Açúcares e doces: é constituído por carboidratos de absorção rápida, como a sacarose (açúcar) e de elevado índice glicêmico. Estes devem ser consumidos com moderação, pois além de se encontrar no topo da pirâmide, estão presentes em diversas preparações.

    Onde encontrar: doces industrializados, mel, açúcares, chocolates, etc.

    Porção recomendada: apenas 1 porção/dia em toda a gestação.

Ganho de Peso Gestacional

O ganho de peso gestacional é estimado para fornecer a quantidade suficiente de nutrientes que irá manter a saúde da mãe e do feto, calculado tendo como base o IMC (Índice de Massa Corporal) da mãe antes da gravidez.

Esse aumento ponderal pode variar entre as mulheres e, para algumas, esse período pode representar um potencial risco para o excesso de peso e até para a obesidade3. O principal causador dessas alterações é o comportamento da mãe, ou seja, uma alimentação inadequada, sedentarismo, hábitos nocivos entre outros.

O índice de massa corporal é obtido usando a seguinte fórmula matemática: Peso ÷ (altura x altura).

Com o resultado do seu IMC, é possível identificar se você está dentro do seu peso ideal a partir da tabela de referência de valores.

Valor Classificação
Abaixo de 18,4 Abaixo do peso
18,5 a 24,9 Peso normal
25 a 29,9 Acima do peso
30 a 34,9 Obesidade grau I
35 a 40 Obesidade grau II (severa)
Acima de 40 Obesidade grau III (mórbida)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mulheres que iniciam a gravidez com o IMC na faixa de normalidade, também conhecida como eutrófica, e ingerem a quantidade energética ideal para suprir as necessidades nutricionais, além de garantir o ganho de peso ideal, estimulam o desenvolvimento e crescimento adequados do bebê.

No entanto, as mulheres que iniciam a gravidez com baixo peso, sobrepeso ou obesidade podem ter intercorrências gestacionais que acarretarão problemas tanto para a mãe quanto para a criança.

No Brasil, 90% das gestantes apresentam consumo energético elevado com ingestão excessiva de produtos muito calóricos e baixo consumo de micronutrientes essenciais, vitamina A e C, cálcio e ferro.

Na dieta para gestante é recomendado o aumento da ingestão de carboidratos, fibras, proteínas, dos micronutrientes citados, e também das vitaminas do complexo B e do ácido fólico. Essas substâncias podem ser encontradas em frutas, verduras, legumes, raízes e tubérculos.

Estudos mostram que as gestantes brasileiras realizam de duas a quatro refeições por dia, e nem todas as escolhas alimentares são adequadas. Alimentos como refrigerantes, arroz, pão com margarina e sucos são exemplos de como é a constituição dessa dieta.

Nem sempre a alimentação da gestante é a ideal para essa fase tão delicada

Conclui-se que há uma inadequação em relação ao número de refeições diárias, na necessidade energética e nas recomendações de micronutrientes essenciais.

Ganho de Peso Inadequado

O ganho ponderal inadequado pode trazer efeitos prejudiciais tanto para as mães que ganham peso extra, quanto para as que não conseguem ganhar peso suficiente. O ganho inferior ao recomendado é constantemente associado ao baixo peso do recém‐nascido. Por outro lado, o ganho de peso exagerado é ligado ao sobrepeso/obesidade nas puérperas e a um maior risco de complicações na gravidez, como:

  • Diabetes gestacional;
  • Pré-eclâmpsia;
  • Complicações no parto e pós-parto;
  • Risco de bebês natimortos;
  • Defeitos no ombro;
  • Defeitos no tubo neural;
  • Asfixia fetal;
  • Obesidade infantil;
  • Aumento do risco de mortalidade infantil e materna;

Ganho de Peso Adequado

Não é indicado a adesão de dietas restritivas durante o período gestacional; no entanto, também não deve haver um consumo alimentar excessivo. Para que o ganho de peso seja saudável e controlado, a OMS fornece algumas recomendações, as quais iremos ilustrar de agora em diante.

É importante ter noção de que a distribuição energética e de nutrientes varia em cada trimestre da gravidez, pois, as necessidades da mãe e da criança são distintas. Além disso, deve-se também ser considerado que cada mulher deve ter um ganho de peso individualizado, que é calculado de acordo com o IMC, como podemos ver abaixo:

Gestantes com baixo peso pré-gestacional 15,0kg
Gestantes com peso adequado
pré-gestacional (eutróficas)
12,5Kg
Gestantes com sobrepeso pré-gestacional 9,0Kg
Gestantes com obesidade pré-gestacional 7,0Kg

Levando em conta a tabela acima, é possível também estimar qual deve ser o peso adquirido em cada trimestre. No primeiro, o ganho não é tão grande, totalizando de 1,5 a 2,0Kg. A partir desta fase, é já recomendado um ganho adicional de 1,5 a 2,0Kg por mês para que no final da gravidez a mulher tenha 7,0 a 15,0Kg a mais, no máximo.

10 dicas Para Ter um Ganho de Peso Adequado na Gravidez

  1. Escolher uma dieta variada com alimentos de todos os grupos da pirâmide e evitar a monotonia alimentar;
  2. Se atentar para a forma de preparo dos alimentos, dando preferência às formas in natura ou de preparação assada, cozida em água ou ao vapor, ou grelhada;
  3. Fazer a leitura dos rótulos dos alimentos industrializados para conhecer seu valor nutricional e seu modo de preparo;
  4. Incluir os alimentos da base da pirâmide em maior quantidade na alimentação diária;
  5. Usar açúcares, doces, sal e alimentos com elevados teores de sódio com parcimônia;
  6. Dar preferência para gorduras mono e poliinsaturadas, as chamadas gorduras boas, que podem ser encontradas em: óleos vegetais, castanha, amendoim, amêndoa, nozes, linhaça, gergelim, etc.
  7. Ingerir de 6 a 8 copos de água diariamente;
  8. Realizar exposição frequente ao sol (antes das 10 horas e após as 16 horas);
  9. Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
  10. Ser acompanhada por um nutricionista desde o início da gravidez como forma de evitar intercorrências durante a gestação.

Toda gestante deve ser incentivada a consumir alimentos naturais, considerando também a regionalidade, pois, os alimentos da estação e regionais, além de serem disponibilizados em maior quantidade, têm baixo valor econômico, e são mais nutritivos, sendo fontes de fibras, minerais, vitaminas e carboidratos na dieta.